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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Pichação e Arte - Nada a ver...



Existe um assunto que eu sempre quis debater mas também sempre tive um pouco de receio de trazer à baila, não apenas pela sensibilidade do assunto, mas também em razão da subjetividade inerente a ele, porém após ver a notícia do assassinato do dono de uma escola de música, que perdeu a vida ao defender o seu muro da ação de pichadores eu achei que estava na hora de tocar o dedo na ferida...

Primeiro, antes de entrar no debate, quero trazer uma definição, a mais bem aceita, do que é arte. Essa tarefa de definição de algo tão subjetivo é praticamente impossível, mas vamos pelo menos tentar iniciar de algum ponto:

Art is the product or process of deliberately arranging items (often with symbolicsignificance) in a way that influences and affects one or more of the senses,emotions, and intellect.

("Arte é o produto ou processo de arranjar deliberademente objetos (geralmente com significância simbólica) de forma a influenciar e afetar um ou mais das sensações, emoções ou intelecto.")

Pois bem, convenhamos que essa definição é pobre, mas reflitamos que uma definição de algo tão importante, em uma frase é impossível, razão pela qual podemos tentar fazer uma definição pessoal e/ou uma definição do que NÃO é arte. Acho isso mais fácil e lógico.

Primeiro, se usarmos a definição acima, praticamente TUDO é arte, inclusive um assassinato, por exemplo. Na minha humilde opinião, a arte é também libertária... Ela tem uma qualidade de libertar não apenas quem cria, mas também quem aprecia... Se, de alguma forma a arte for constrangedora da liberdade básica de outro ser humano, ela deixa de ser arte... Arte não se impõe pela força de vontade do criador (como uma lei, por exemplo), pois se impõe dessa forma, ela é uma manifestação extremada do ego, que se impõe à sensibilidade artística do criador. Quando eu assassino alguém, por mais ´artístico´ que seja a forma com que faço isso, deixa de ser arte pois a violência atravessa a liberdade individual (e criativa) de outra pessoa, constrangendo essa pessoa a ´fazer parte´ da sua arte, quer queira quer não queira, destruindo um dos pilares da criação artística que é a liberdade criativa. A arte para ser arte deve não apenas ser arte na cabeça de quem cria, mas também na de quem aprecia, se você ´força´ alguém a apreciar isso, ela deixa de ser libertária para ser constrangedora e torna-se uma forma de violência egoística... Essa é a minha opinião...

Pois bem, já nesse ponto expresso acima temos que pichação NÃO é arte por conta do seu caráter constrangedor de vandalismo, como se isso não bastasse, e aí eu vou para uma análise ainda mais pessoal e subjetiva, a pichação é claramente uma forma de extravasar sentimentos, na verdade sentimento de egoísmo... O pichador não quer fazer arte, ele quer aparecer (A ousadia conta mais do que o sentimento a ser demonstrado, quanto mais alta a pichação, melhor), se aproximaria mais de um esporte do que de uma arte. São assinaturas em forma de garranchos, que apontam sua ´ousadia´, querem mais do que mostrar sua ´arte´, mostrar que PODEM.  Nesse processo eles constrangem a criatividade e bom (ou mau) gosto dos outros, e não se importam com isso... Um muro de uma casa pintado de branco é a expressão criativa do morador, que escolheu sua cor, que melhor combina com sua idéia artística e o fez, apenas para ter sua forma de expressão tolhida por garranchos de outrem, que o faz não para demonstrar sua arte (não sejamos ingênuos), mas para dizer ´eu estive aqui´, muitas vezes para mostrar para os amigos e namoradinhas sua ´ousadia´.. Tanto é que em geral cada um usa o mesmo garrancho aqui e acolá... Fosse arte MESMO, o artista tocaria a campainha do dono do muro e pediria licença para pichar... Não, pichação não é arte, é apenas uma forma de extravasar o ego tolhido por motivos nunca bem entendidos, que se expõe de forma impositiva e violenta, desrespeitosa e, de acordo com a maioria das pessoas, feia... Na minha casa, por exemplo, temos uma fachada em pedra vermelha, planejávamos limpá-la pra deixá-la bonita, ao nosso modo, porém num belo dia a vimos pichada, e fomos forçados a desistir do plano de exprimir nossa sensibilidade criativa, no nosso muro, por conta do capricho de adolescentes com problemas de ego e falta de educação social...

Mas esse nem é o maior dos problemas... O maior dos problemas é que algumas pessoas estão tentando transformar isso em ´arte´... 



Na última bienal das artes de São Paulo houve um painel para os pichadores... Segundo um dos curadores-chefes a amostra concedeu esse espaço pois os pichadores questionaram,  "os limites usuais que separam o que é arte e o que é política - uma questão que interessa muito ao projeto curatorial desta Bienal"

Ocorre que com esse ato, a Bienal deu um certo ar de legitimidade a pichação, confundindo o que é arte com o que é vandalismo... Aliás a Bienal tem feito isso já há algum tempo, na sanha de procurar as luzes da mídia, ela se vende com polêmicas para atrair a atenção que não consegue mais ter pelo próprio poder da arte... Isso é triste tanto por demonstrar um afastamento do público da verdadeira arte quanto da curadoria em se entregar ao ´pop´ da polêmica fácil e que vende bem... Um BBB da arte em que os criadores fazem o papel de Pedro Bial e usam a cantilena de ´arte é democracia e liberdade, tudo é arte´, cuja veracidade quase consegue esconder a falsidade por trás da realidade financeira por trás disso tudo....

Ah, sim, não vamos confundir grafiteiros com pichadores... Um é  artista, o outro é apenas um contraventor e, às vezes, assassino...


5 comentários:

Daniel disse...

Concordo plenamente.
Ao meu ver, pichadores deviam ser presos, pichados dos pés à cabeça, e prestar serviços à comunidade, que, por irônia, seria pintar muros pichados.

Parabéns pela postagem.

Hoje cedo quando ouvi na Jovem Pan a notícia desse professor de música que foi esfaqueado por discutir com os pichadores, ele ainda estava vivo. Lamentável.

Daniel

Luana M. disse...

Se o cara quer arte, que seja um grafiteiro, que toca a campainha para perguntar se a pessoa quer a sua arte, pois o muro está caindo aos pedaços, e um latinha de tinta com muita cor faz até bem para os olhos dos transeuntes.
Legitimar o ato do pichador é lamentável. A Bienal não tem mais o meu respeito, nem o seu, nem o de muita gente. Acredito que outro tipo de Bienal, com seriedade acima do dinheiro, será criada no Brasil. E nós ficaremos felizes com a "concorrência". Ninguém aguenta mais tanta palhaçada...

Isso que a Bienal fez, em nome de uma pseudoarte, não é crime? Não é um fomentar uma contravenção????????

Lamentável o ocorrido com o professor! Antes de ser um pichador, o cara já tinha a alma de assassino.

Parabéns pelo post!

Olhar Feminino disse...

Muito obrigada pela visita e comentário no meu blog.
E aproveito para deixar um comentário tbm.

Concordo plenamente com você.
Pichação está muito longe de ser considerado arte.
Arte expressa e desperta sentimentos, pichação não.
Desperta sim a sensação de que estamos mesmo a mercê de arruaceiros e vândalos que vagam pela noite sem a menor noção de respeito, e acabam transformando-se em criminosos.

Lista Telefonica disse...

gostei do blog...pena que está desativado.

Unknown disse...

pichação é arte contemporânea marginal efêmera

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