Pages

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Mensalão e embargos infringentes: o direito ao melhor direito - Luiz Flávio Gomes

Nenhum comentário:


O caso mensalão está na fase recursal. Todos os réus condenados apresentaram embargos de declaração. É possível que alguns consigam algum tipo de benefício com esses embargos (redução de pena, por exemplo). Por quê? Porque os advogados alegam que houve aplicação de lei nova mais desfavorável (e isso é proibido no Direito Penal).
Mas a polêmica maior reside, evidentemente, nos embargos infringentes (previstos no art. 333 do Regimento Interno do STF), porque eles viabilizam a rediscussão da causa, consoante os limites dos votos vencidos (reanálise fática, probatória e jurídica). E serão julgados com a presença de novos ministros (um já assumiu e outro está na iminência de ser escolhido).
De acordo com a minha opinião não há dúvida que tais embargos (infringentes) são cabíveis naquelas situações (são catorze, no total) em que os réus foram condenados, mas contaram com 4 votos favoráveis (Delúbio, José Dirceu, João Paulo etc. estão nessa situação).
Dois são os fundamentos (consoante meu ponto de vista):
(a) com os embargos infringentes cumpre-se o duplo grau de jurisdição garantido tanto pela Convenção Americana dos Direitos Humanos (art. 8º, 2, “h”) bem como pela jurisprudência da Corte Interamericana (Caso Barreto Leiva);
(b) existe séria controvérsia sobre se tais embargos foram ou não revogados pela lei 8.038/90. Sempre que não exista consenso sobre a revogação ou não de um direito, cabe interpretar o ordenamento jurídico de forma mais favorável ao réu, que tem, nessa circunstância, direito ao melhor direito.
A esses dois fundamentos ainda cabe agregar um terceiro: vedação de retrocesso. Se de 1988 (data da CF) até 1990 (data da lei 8.038) existiu, sem questionamento, o recurso dos embargos infringentes (art. 333 do RISTF), cabe concluir que a nova lei, ainda que fosse explícita sobre essa revogação (o que não aconteceu), não poderia ter valor, porque implicaria retrocesso nos direitos fundamentais do condenado.
Pelos três fundamentos expostos, minha opinião é no sentido de que o ministro Joaquim Barbosa (que já rejeitou os embargos infringentes de Delúbio), mais uma vez, não está na companhia do melhor direito. O tema vai passar pelo plenário, onde, certamente, Joaquim Barbosa pode sair derrotado, devendo preponderar o pensamento do ministro Celso de Mello, que já se manifestou no sentido do cabimento dos embargos infringentes, invocando parte dos argumentos acima recordados.
Joaquim Barbosa deve ser derrotado, mais uma vez, porque não é por meio da soberba e do autoritarismo que se constrói o direito (ou mesmo a nossa própria vida). Quem busca guerra o tempo todo, não pode colher as flores brancas da paz. Em muitos momentos o destempero emocional do ministro Joaquim Barbosa evidencia que nós, seres humanos, nem sequer chegamos ainda ao grande meio-dia de Nietzsche, que explica que a evolução da humanidade está no meio do caminho entre o amanhecer e o anoitecer. Ou seja: o ser humano está entre o animal primata e o “além-do-homem” (o supra-humano), mas, em determinados momentos, nos apresenta a sensação de que está mais para o amanhecer que para o anoitecer.
___________

* Luiz Flávio Gomes é jurista e professor fundador da Rede de Ensino LFG. Diretor-presidente do Instituto Avante Brasil e coeditor do atualidadesdodireito.com.br. Foi Promotor de Justiça (1980 a 1983), Juiz de Direito (1983 a 1998) e Advogado (1999 a 2001).

PNAD 2012 e a imprensa

Nenhum comentário:







Foi divulgado em 27 de setembro, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o resultado da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) com dados referentes a 2012. Essa pesquisa é realizada, como o próprio nome já diz, por amostragem domiciliar. Ao contrário do Censo que cataloga todos os habitantes do Brasil. Na pesquisa se busca identificar indicadores dos mais variados tipos: escolaridade, renda, acesso a bens de consumo e a serviços básicos. Ela é realizada todos os anos.

Nos últimos números divulgados, percebem-se claramente como os indicadores sociais e dados de consumo melhoraram no país. Em todas as regiões brasileiras o rendimento médio mensal dos trabalhadores com mais de 15 anos cresceu 5,8%. A taxa de desocupação variou para baixo em relação a 2011, passou de 6,7% para 6,1% e o número de trabalhadores com carteira assinada cresceu 3,2% em um ano.

Há infelizmente, um aumento, mesmo que pequeno, na desigualdade de renda entre homens e mulheres. E há uma variação – se é que se pode chamar assim – de 0,1% do número de analfabetos com 15 anos ou mais no Brasil.


Uma variante mais do insignificante do ponto de vista estatístico. Porém isso não significa que o dado em si deve ser alvo de atenção. E, ao contrário do que a “grande imprensa” noticiou como sendo – ou dando a entender – “culpa” do governo federal a “exorbitante” variação desse índice, a educação básica é de responsabilidade, prioritariamente, dos municípios, com algumas escolas públicas estaduais com essa faixa de ensino.

Outro dado que chama a atenção é que diminuiu o percentual de pessoas com 25 anos ou mais sem instrução ou com menos de um ano de estudo. Passou de 15,1% para 11,9%. E o número de pessoas com nível superior completo no Brasil passou de 11,4% para 12%, um total de 14,2 milhões de pessoas.

Vivemos no país onde a “grande imprensa” usa a desinformação como instrumento de medo. Medo de que as coisas acabem, de que o que foi conquistado escoa pelo ralo. Nossa grande mídia alimenta o ódio de classe encruado em boa parte da chama classe média que, ao ver os trabalhadores passando a ter condições de frequentar lugares antes exclusivos dos ”sustentadores do país” – como faculdades, shoppings e aeroportos –, expõe todo seu ranço.

A PNAD possui diversos indicadores onde se permite estudar um pouco da realidade brasileira em 2012, mas para não perder o costume, a ênfase foi em um dado que variou 0,1%. Talvez esse seja o grau de confiabilidade dos autoproclamados “grandes” na imprensa brasileira.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Metrópolis

Nenhum comentário:



Assisti anteontem, pela primeira vez, o clássico do cinema mudo, Metrópolis, do cineasta alemão Fritz Lang.

Esse filme, feito em 1926, têm vários elementos do chamado expressionismo alemão, como a estética um tanto onírica, em especial no design dos cenários, exagero tanto nas maquiagens como nos gestos, uma critica a relação máquina x homem, relacionando ao conceito real x imaginário muito presente nesse movimento artístico.

Há de se ressaltar que a película de Lang sofreu muitos danos e diversas cenas se perderam, a versão que assisti não continha as partes encontradas em 2008 na Argentina, e muito menos todas as cenas do original, apresentado em 1927. Porém, mesmo assim, o filme é impressionante.



O enredo é baseada no romance de Thea Von Harbou, que também participou da roteirização cinematográfica, e conta a história de um local dividido em dois estratos, um dos operários, que vivem na cidade do subsolo, e trabalham tal qual máquinas alimentando máquinas, e a idílica cidade de cima, Metrópolis, onde os ricos desfrutam dos resultados do labor incansável e monótono dos operários pobres, totalmente alienados. Tudo começa a mudar quando a angelical Maria leva crianças pobres dos operários ao jardim dos ricos, para apresenta-las aos que lá se divertiam, e encanta Freder, o filho do criador e Mestre de Metrópolis, Joh Fredersen. O filme passa por vários momentos, inclusive com a criação da Máquina-Humana (um andróide, para os padrões de hoje), com a aparência de Maria, criada para semear o caos tanto na cidade de cima, como na cidade de baixo.

A estética do filme é fantástica e impressiona principalmente se pensarmos nas dificuldades técnicas do começo do século XX. Lang conseguiu criar com movimento e imagem uma sensação de desconforto em muitas cenas, como nas imagens dos operários, que em fila e passo lento retornam, de cabeça baixa,  para a cidade no subsolo. Ou no movimento aparentemente caótico e sem sentido dos operários movendo os ponteiros das máquinas. Em contrapartida, criou muito bem a sensação de liberdade, luxúria e beleza no jardim dos ricos.



O filme utiliza muitas alegorias bíblicas para ajudar a desenvolver a história, e a simbologia mística católica preenche muito bem a proposta de Lang, com as visões proféticas, leituras de trechos do apocalipse, fazendo um verdadeiro enlace entre o mundo divino e o homem que quer se divinizar.

A criação blasfêmica da Máquina-Humana, que aqui se confunde com a Grande Prostituta do Apocalipse é o fio condutor da crítica do filme em relação a soberba do homem. 



A atriz Briggite Helm interpretou Maria e seu double, a Máquina-Humana, de maneira magistral, teve o momento mais impressionante para mim no filme ao dançar (enquanto Máquina-Humana) de maneira mecânica / sensual para a platéia dos ricos moradores de Metrópolis, que com seus rostos carregados de luxúria e olhares lânguidos são hipnotizado e começam a brigar entre si, como uma turba de animais, desfazendo todo e qualquer verniz de civilidade. Ao mesmo tempo, Freder têm visões apocalíptica da Grande Prostituta, bem como citações bíblicas... Essa dança, assim como a atitude da Máquina-Humana, com movimentos bruscos e exagerados criaram, para mim, um dos momentos mais marcantes de toda a história do cinema. É sensual , grotesco e hipnotizante ao mesmo tempo.



Outro ponto marcante é a revolta dos operários. Enquanto a Máquina-Humana, como avatar dos pecados capitais,  incita a destruição da Metrópolis pela luxúria, nos operários ela incita a ira para destruir as máquinas. 

Essa mistura entre o sagrado e o profano cria simbolismos nos próprios personagens. Maria seria uma profeta, pura e angelical, cuja visão prevê a chegada de um mediador (o filho do criador e diretor de Metrópolis), que seria o coração a mediar entre o cérebro (os ricos de Metrópolis) e as mãos (os operários), enquanto a Máquina-Humana (que Rotwang, a pedido de Fredersen,  criou a imagem de Maria) representaria os pecados dos homens, que levam a aniquilação. Vê-se que a visão de Lang sobre o cérebro (Fredersen, dos ricos) e as mãos (Grot, dos operários) é um tanto reacionária, e mesmo a esperada "luta de classes" é condenada pois a revolta dos operários é retratada como um erro proporcional a luxúria dos ricos. Os operários são vistos como acéfalos raivosos, enquanto os ricos como aproveitadores alienados.



Apesar disso, Metrópolis é um dos melhores filmes de todos os tempos, com uma excelente narrativa, estética de tirar o fôlego e atuações inspiradas (principalmente se levarmos em conta que o filme é mudo). Seus personagens estão entre os mais poderosos do cinema, suas cenas são coreografias impecáveis, enfim, um filme dos anos 20 que além de ser atual em muitos aspectos, é uma aula sobre cinema e arte.


domingo, 30 de junho de 2013

Sobre as manifestações e o governo.

Nenhum comentário:



Estamos numa espécie de quarta-feira de cinzas dos movimentos e manifestações que tomaram conta do Brasil por quase duas semanas. Talvez seja a hora de começarmos a tentar entender um pouco o ocorrido, e embora não seja tão pretensioso a ponto de tentar encaixar uma compressão, uma Teoria do Tudo Político das Últimas Semanas, gostaria de dar minha opinião, com base em tudo que vi, vivi e li.

Antes de entrar no objeto dessa análise, quero delimitar um pouco o assunto. Não falarei aqui das infiltrações conservadoras, nem (pelo menos diretamente) da manipulação midiática ou do cheiro de golpe que muitos sentiram. Quero, na verdade, fazer um ensaio crítico sobre os acontecimentos, focando na vontade das ruas e nas atitudes do governo. Claro, em dado momento a pauta foi sequestrada por grupelhos de direita e extrema-direita, por parte de uma classe média completamente retrógrada e acéfala, mas isso é fácil de se notar. Eu me refiro a população mesmo, que deu apoio majoritário às manifestações (Ainda que não saibam bem sobre do que se tratava). Parece óbvio, também, que essa classe média preconceituosa e imbecilizada não teria espinha nem mobilização para fazer essas manifestações. Já havia ensaiado com movimentos como “Cansei”  e a “Marcha contra a Corrupção”, mas por falta de visão política e confiança popular, nunca deu em nada.

Então por quê isso aconteceu agora? Qual a razão de, agora, termos essa manifestações todas?

Li muitos ensaios sobre o assunto, inclusive artigos internacionais, e alguns autores me pareceram mais próximos do que eu penso ser a verdade (como Boaventura e Safatle).

Para tentar explicar isso que eu penso, vou começar por uma análise histórica:

A primeira eleição de FHC se deu sob os louros do Plano Real (irrelevante, nesse caso se ele era o pai ou não do plano, ele tornou-se o pai da idéia no imaginário popular), vínhamos de amargas lembranças da hiperinflação, dos governos Sarney e Collor e FHC tinha essa bandeira dourada que era o Plano Real. E essa foi a única bandeira, que ele jogou na nossa cara durante 4 anos. Nada fez além de balançá-la na nossa frente quando alguém questionava, por exemplo, sua atuação no campo social. Seu governo começou a fazer água, por pura incompetência, e ganhou sua segunda eleição, cercado de denúncias de corrupção e clara incompetência econômica e política. Sua bandeira para ganhar a eleição foi, novamente, o Plano Real, imorredouro. A alternativa trazia o medo de acabar com a única conquista de seu governo que valia a pena, a estabilidade econômica do Plano Real. E assim ele venceu, mais pelo medo do que pela esperança.

Seu segundo mandato apenas agravou a crise econômica, moral e social do país. Ficou claro que o Plano Real já era algo distante, algo consolidado e já não mais poderia ser usado como bandeira. O PT se fortalecera nas lutas sociais, nas ruas, nas críticas ao ‘outro lado’ do Plano Real, na quase intocada exclusão social, no desemprego, na inflação que voltava a ter patamares preocupantes (muito embora a grande mídia tudo embaçasse). Lula fez a famosa Carta ao Povo Brasileiro, em que se comprometia a não fazer reformas profundas na economia, preservando o Plano Real. Bingo! Era isso que o povo queria. Estava cansado, havia 8 anos que não havia nenhuma novidade no campo social, a saúde, segurança, educação estavam destruídos, sucateados. O povo queria, de fato, mais. O dragão da inflação estava conquistado. E o povo estava cansado do argumento imortal do Plano Real. O medo diminuíra e a esperança de acabarmos com o arrocho, com a exclusão social, de haver um diálogo mais amplo com a sociedade e com as camadas mais pobres tornou-se uma clara bandeira.

Lula venceu por conta do cansaço e desgaste do Plano Real e a falta de alternativas sociais do governo anterior. Como tudo na criação evolui, as demandas populares também evoluíram. O povo queria mais. Por isso, 8 anos de nada trouxeram o esgotamento do “casamento” entre o povo e o Plano Real. Descobriu-se que, apesar do Plano Real, problemas sociais seríssimos não só continuavam, mas se agravavam. Todo o esforço da mídia não foi o bastante para segurar a “revolta” popular, democrática, que levou Lula ao Palácio do Planalto.

Com todo o respeito ao Lula, com a terra devastada encontrada, a economia em frangalhos, não foi difícil fazer sucesso. Lula não lançou um “Plano Real”. Lançou vários: Bolsa Família, Minha Casa, Minha Vida, PRoUni, FIEES, PIBÃO, PAC, etc... Todos esses programas, a maioria de cunho social, tiveram um impacto estrondoso na economia, mas, principalmente, na alma dos brasileiros. Lula era o “cara”. Durante seu governo, nos 4 primeiros anos, nem mesmo a agressiva mídia conseguiu lutar contra a realidade. Lula era um baú de boas notícias para o povo.



Sentia-se claramente o Brasil avançando. O diálogo social, com o MST e tantos outros movimentos aumentou. Adicionado seu incomparável carisma com os fartos resultados sociais e competência administrativa, econômica e política e pronto. O segundo mandato foi facilmente conquistado, apesar das baterias midiáticas. E o povo sentiu que o segundo mandato continuou com as conquistas os diálogos sociais. Na verdade o segundo mandato teve ainda mais novidades, continuando tudo que houve no primeiro e adicionando mais e mais conquistas. O PIBÃO veio aí, no segundo mandato, de fato. Resultado: Emplacou seu primeiro “poste”, a Dilma Rousseff.

Dilma ganhou a eleição como a mãe do PAC. Mulher inteligente, dura mas ligada as raízes lulistas, mereceu toda a confiança do povo brasileiro, e por boa parte de seu segundo mandato teve uma aprovação até maior que do Lula. Parecia novela da Globo, que entrega o Ibope em alta pro segundo programa... A oposição estava esfacelada (tanto a partidária como a midiática). E aí, aí a coisa desgringolou...

Dilma não têm a mesma facilidade de diálogo que o Lula, principalmente com os movimentos sociais. Abortou-se o diálogo, quase que completamente, com as bases do partido, e o PT ficou anestesiado. Fisiologismos não seriam mais perdoados, pois não se via mais as “novidades”  sociais. Ao contrário, vimos índios serem mortos, Ministro da Justiça apoiar ação truculenta da Polícia. Pouco diálogo, afastamento das agendas sociais. Tudo em nome do necessário foco na parte de infraestrutura. Eram discussões sobre a Taxa Selic, sobre obras gigantescas, mas índios morriam, terras eram tomadas, plano de lei de mídias engavetadas... E nenhum “Plano Real”. Dilma achava que apresentando as obras do PAC-2 seria suficiente. Não foram. Os serviços públicos eram terríveis, a própria Bolsa Família levou duro golpe, e o povo chego a acreditar que seria extinta! (será que pensariam isso se fosse o Lula presidente?). Sentia-se nos poros que algo havia mudado. Para piorar, a mídia deu tomatada no dragão da inflação e, o povo, desconfiado, franziu a sombrancelha.

José Eduardo Cardoso, Paulo Bernardo, Gleise Hoffman davam provas do distanciamento do governo e do PT das ruas. O PT ganhou em São Paulo, na capital, mas já com uma bomba armada, a desconfiança de que o PT, não mais era um partido com tanto apego ao povo e ao social. O aumento de 0,20 foi o estopim, em que pesem os menos de 6 meses de governo do Haddad, ele pagou pelo pato dos outros.

Dentro desse quadro todo, com a mídia fustigando, com desconfianças sobre a vontade politica do PT, surgiu um vácuo à esquerda, que o MPL acabou, sem querer, sugado. E aí tudo explodiu. Os jovens à esquerda sentiram que ‘têm que mudar” (Seja lá oq for), e os à direita concordaram (sim, tem que mudar, mas não necessariamente o ponto que a esquerda quer).

Espero que, tudo isso sirva para acordar o PT de sua letargia social, para ao invés de assustar, encorajar as necessárias mudanças, que lance bandeiras sociais, que o povo quer (não dá para fazer como FHC que sentou durante 8 anos no ‘sucesso’ do Plano Real, e ficar 8 anos sentado no sucesso dos projetos sociais do Lula, o povo quer mais, sentiu o gostinho de voltar a fazer parte, a classe média está aí, confusa, mas querendo mais). Financiamento público para partidos, lei de mídias, mais projetos de inclusão social, diálogo com os movimentos sociais poderão ser as respostas...

domingo, 9 de junho de 2013

Criminalização da Política

Nenhum comentário:




Vez ou outra vemos as frases "Político não presta", "Tudo farinha do mesmo saco", "Tinha que jogar uma bomba em Brasília", temperada com charges em que o Congresso Nacional é implodido, queimado ou atingido por mísseis....

Essas charges e comentários, que vêm de uma minoria bastante barulhenta, batem sempre na mesma tecla, de que o Brasil é uma porcaria, que a culpa é dos políticos, que são todos vagabundos.

Mas se você notar, essas críticas vêm quase sempre de pessoas que costumeiramente ou apóiam a direita, ou odeiam a esquerda (sem, no entanto, se dizerem de direita). Alguns tentam fugir da pecha de que apóiam a direita, se dizendo apartidários (porém, nunca criticam ícones da direita como FHC ou governos militares, e seus posts têm sempre cunho ideológico de direita, ora atacando projetos sociais como bolsa-família e sistema de cotas, ora defendendo dogmas da direita liberal, como menos intervenção estatal e a meritocracia ou então citando o onipresente mensalão – alias apenas o do PT -).



Antes de analisar as razões dessas pessoas, descritas acima, quero pincelar o que essa verdadeira criminalização dos políticos e da política é, dentro do contexto mundial.

É natural que tenhamos muitas ressalvas aos nossos políticos, afinal não são poucos os casos de corrupção e falta de integridade moral (que não se restringe a corrupção, como bem demonstra o nosso Deputado Feliciano e outros). Mas daí a achar que a política é, per si, algo ruim, que os políticos são todos safados vai uma diferença enorme. De fato, uma diferença entre democracia e ditadura, entre liberdade e repressão... 



Quer queira, quer não queira, os políticos são a forma pela qual o povo exerce indiretamente seu poder soberano, elegendo representantes para que, em seu nome, lute pelos seus interesses e governe o seu País, Estado, Município ou Distrito Federal. Na verdade, é político também aquele eleito pela associação de bairro, pela associação de pais e mestres de uma escola... Mais profundamente, é político também o chefe de família, o professor, o aluno, enfim todos nós... E exatamente por isso os políticos eleitos para exercer o poder público nada mais são do que o reflexo de nós mesmos.

Churchill disse que a democracia era uma péssima forma de governo, somente superior a todas as outras formas de governo. Com isso o premiêr mais popular da história britânica quis dizer que a democracia estava longe de ser perfeita, mas a alternativa era, historicamente comprovada, muito pior (para maiores e mais acadêmicas explicações sobre o assunto sugiro a leitura de Robert Dahl).



Quem é, portanto, contra os políticos, contra o Congresso Nacional, é contra a democracia, por simples impositivo lógico (não há como exercer a democracia em nosso país de outra forma que não elegendo representantes). 

Infelizmente, dado o grau em que nos encontramos, a arte de governar não pode ser feita sem ter que 'jogar' o 'jogo político', de interesses (e quando digo interesses não me refiro a interesses escusos, mas interesses políticos). O maior político dos EUA foi Abraham Lincoln, e ele teve que negociar, barganhar e até mentir para conseguir, por exemplo, garantir direitos aos negros (sugiro que se assista ao filme 'Lincoln'). Alguém já se disse que se faz política com os intestinos e não podemos ter fora do nosso alcance que cada político representa um grupo de pessoas, que o elegeu, e essas pessoas têm interesses conflitantes, porém todos merecem respeito em nome da democracia (mesmo um Feliciano representa um grupo, deverá ter essas idéias discutidas, desde que não conflitem com os direitos fundamentais de outros grupos, coisa que quase sempre acontece em se tratando desse político). O 'encaixe', e ajuste para gerar governabilidade não é algo fácil nem bonito. Porém, é necessário no jogo democrático esse ajuste.



Faz sentido, portanto, que as pessoas que tanto criticam nossos políticos como um todo, nosso Congresso Nacional, sejam de direita (que têm ainda um  caso de amor platônico com a ditadura). Não é à toa que vejamos mais e mais manifestações raivosas dessa minoria contra os políticos (e em especial contra o partido político que está no poder, sem perspectivas de sair tão cedo pela via democrática) nas redes sociais. 

Quanto a análise das razões dessas pessoas, pode-se ver no post anterior, onde é analisado o perfil daquele derrotado derrotista, cujo preconceito se tornou ideologia e cuja cegueira social e egoísmo não lhe permite perceber a mudança (para melhor) que o Brasil teve na última década. Mais importante é 'não perder a pose' (preconceito, na verdade), e continuar acreditando na meritocracia que alijou quase 60% da população brasileira do mercado de consumo por muito tempo. Ainda que a maior parte do Homo Reacionarius seja composta por vítimas desse mesmo sistema (o preconceito e o sonho de participar da parte de cima da pirâmide dessa falsa meritocracia é suficiente para cegá-lo da sua própria realidade, é como se, negando o pão na boca do outro, ele possa, pelo menos, manter o sonho de ter um pão na sua boca)

sábado, 8 de junho de 2013

Homo Reacionarius

Nenhum comentário:



O Homo Reacionarius se sente traído... Traído pela realidade... Ele até confiava na democracia, até que a democracia levou ao poder alguém que ele não gostava, e esse alguém fez um governo contrário às suas idéias, porém de muito mais sucesso, em todos os indicadores, que o antigo governo.

Esperava o Homo Reacionarius que aquele governo fosse uma nuvem passageira, catastrófica para o nosso país, para poder dizer, ao final "Veja como aquela atriz estava certa, ela 'tinha medo' e tinha razão!!" - nunca mais haveria de existir uma eleição em que o povo se arriscasse - Porém a realidade lhe bateu firme na cara... Seus preconceitos não se alinharam com a prática, a teoria falhou onde a prática teve sucesso... Uma nova gente surgiu, se levantou e assustou o Homo Reacionarius... Essa gente viajou de avião quando antes não tinha o que comer. Antes, as linhas eram bem definidas, mantidas a fórceps, davam certo supedâneo lógico ao preconceito: "pobre era pobre por uma questão de DNA" (muito embora, para manter o verniz liberal, nunca o diga às claras). Pensa o Homo Reacionarius que todos têm direitos iguais nessa meritocracia magnífica que mantém os imprestáveis em seu devido lugar. Nunca esperou, o Homo Reacionarius, que esse povo todo pudesse se levantar, e se levantando, se mantivesse em pé, e de pé, tomasse para si o poder político. Seu sustentáculo mental, moral ruiu...







Tentou ainda, o Homo Reacionarius, dentro do jogo democrático, mostrar que estava certo, que aquilo tudo era uma ilusão. Mas contra a dura realidade do arroz com feijão no prato, da roupa nova, do emprego digno, as palavras do Homo Reacinarius é que pareciam ilusão. Alguns Homo Reacionarius, diante de um ódio avassalador ainda culparam diretamente o povo, mais especificamente o povo nordestino, pelo fim do 'seu sonho' (do Homo Reacionarius). Outros, mais inteligentes, preferiram se esconder em explicações mais palatáveis e mais bem elaboradas, verdadeiras trincheiras na guerra quase perdida contra a realidade.




E aí chegamos na última trincheira, a derradeira... O Homo Reacionarius percebe que não têm mais chance de vencer essa guerra, a História o atropelou com a força de milhões de deserdados sociais que recuperaram sua força política e vislumbraram uma realidade menos servil e mais esperançosa. Em puro desespero, abandonados pelos enfraquecidos partidos de direita (que também se sentem desarmados, mas não percebem que estão desarmados pois carecem de projetos alternativos para aqueles deserdados, eis que todos seus projetos visam uma minoria que foi alijada do poder), só lhes resta lutar agora contra o sistema. Eis a última trincheira: A democracia!

 O Homo Reacionarius tenta convencer (sabe-se lá quem) que a culpa está justamente nos pilares da democracia: os políticos, o Congresso Nacional e tudo o mais que dá sustentação ao jogo democrático. Mas note, ele o faz de maneira claudicante... Critica, com base no senso-comum o político em geral, mas atira sempre no mesmo partido político (que por acaso deu poder a massa que os alijou), sempre em seus símbolos, poupando (quase sempre, mas não sempre), os símbolos de sua direita (os caciques dos partidos de oposição, o próprio partido de oposição), pode até para disfarçar e dar forças ao seu argumento pouco democrático, atacar aqui e acolá alguém do seu partido ou até mesmo o partido de oposição (de leve, bem de leve, sem nenhuma charge, por favor), mas as baterias sempre estão muito mais fortes contra o governo eleito, seu partido e seus aliados. 

Resta saber se o Homo Reacinarius será extinto de fato, ou se terá sucesso parcial aqui e acolá... O que se sabe é que, com sua pouca inteligência, o Homo Reacionarius está fadado a desaparecer, gritando e esperneando, levando consigo todo um complexo midiático que lhe serviu muito bem, alimentando-o, porém tão ineficaz quanto os partidos de oposição.