Pages

domingo, 9 de junho de 2013

Criminalização da Política





Vez ou outra vemos as frases "Político não presta", "Tudo farinha do mesmo saco", "Tinha que jogar uma bomba em Brasília", temperada com charges em que o Congresso Nacional é implodido, queimado ou atingido por mísseis....

Essas charges e comentários, que vêm de uma minoria bastante barulhenta, batem sempre na mesma tecla, de que o Brasil é uma porcaria, que a culpa é dos políticos, que são todos vagabundos.

Mas se você notar, essas críticas vêm quase sempre de pessoas que costumeiramente ou apóiam a direita, ou odeiam a esquerda (sem, no entanto, se dizerem de direita). Alguns tentam fugir da pecha de que apóiam a direita, se dizendo apartidários (porém, nunca criticam ícones da direita como FHC ou governos militares, e seus posts têm sempre cunho ideológico de direita, ora atacando projetos sociais como bolsa-família e sistema de cotas, ora defendendo dogmas da direita liberal, como menos intervenção estatal e a meritocracia ou então citando o onipresente mensalão – alias apenas o do PT -).



Antes de analisar as razões dessas pessoas, descritas acima, quero pincelar o que essa verdadeira criminalização dos políticos e da política é, dentro do contexto mundial.

É natural que tenhamos muitas ressalvas aos nossos políticos, afinal não são poucos os casos de corrupção e falta de integridade moral (que não se restringe a corrupção, como bem demonstra o nosso Deputado Feliciano e outros). Mas daí a achar que a política é, per si, algo ruim, que os políticos são todos safados vai uma diferença enorme. De fato, uma diferença entre democracia e ditadura, entre liberdade e repressão... 



Quer queira, quer não queira, os políticos são a forma pela qual o povo exerce indiretamente seu poder soberano, elegendo representantes para que, em seu nome, lute pelos seus interesses e governe o seu País, Estado, Município ou Distrito Federal. Na verdade, é político também aquele eleito pela associação de bairro, pela associação de pais e mestres de uma escola... Mais profundamente, é político também o chefe de família, o professor, o aluno, enfim todos nós... E exatamente por isso os políticos eleitos para exercer o poder público nada mais são do que o reflexo de nós mesmos.

Churchill disse que a democracia era uma péssima forma de governo, somente superior a todas as outras formas de governo. Com isso o premiêr mais popular da história britânica quis dizer que a democracia estava longe de ser perfeita, mas a alternativa era, historicamente comprovada, muito pior (para maiores e mais acadêmicas explicações sobre o assunto sugiro a leitura de Robert Dahl).



Quem é, portanto, contra os políticos, contra o Congresso Nacional, é contra a democracia, por simples impositivo lógico (não há como exercer a democracia em nosso país de outra forma que não elegendo representantes). 

Infelizmente, dado o grau em que nos encontramos, a arte de governar não pode ser feita sem ter que 'jogar' o 'jogo político', de interesses (e quando digo interesses não me refiro a interesses escusos, mas interesses políticos). O maior político dos EUA foi Abraham Lincoln, e ele teve que negociar, barganhar e até mentir para conseguir, por exemplo, garantir direitos aos negros (sugiro que se assista ao filme 'Lincoln'). Alguém já se disse que se faz política com os intestinos e não podemos ter fora do nosso alcance que cada político representa um grupo de pessoas, que o elegeu, e essas pessoas têm interesses conflitantes, porém todos merecem respeito em nome da democracia (mesmo um Feliciano representa um grupo, deverá ter essas idéias discutidas, desde que não conflitem com os direitos fundamentais de outros grupos, coisa que quase sempre acontece em se tratando desse político). O 'encaixe', e ajuste para gerar governabilidade não é algo fácil nem bonito. Porém, é necessário no jogo democrático esse ajuste.



Faz sentido, portanto, que as pessoas que tanto criticam nossos políticos como um todo, nosso Congresso Nacional, sejam de direita (que têm ainda um  caso de amor platônico com a ditadura). Não é à toa que vejamos mais e mais manifestações raivosas dessa minoria contra os políticos (e em especial contra o partido político que está no poder, sem perspectivas de sair tão cedo pela via democrática) nas redes sociais. 

Quanto a análise das razões dessas pessoas, pode-se ver no post anterior, onde é analisado o perfil daquele derrotado derrotista, cujo preconceito se tornou ideologia e cuja cegueira social e egoísmo não lhe permite perceber a mudança (para melhor) que o Brasil teve na última década. Mais importante é 'não perder a pose' (preconceito, na verdade), e continuar acreditando na meritocracia que alijou quase 60% da população brasileira do mercado de consumo por muito tempo. Ainda que a maior parte do Homo Reacionarius seja composta por vítimas desse mesmo sistema (o preconceito e o sonho de participar da parte de cima da pirâmide dessa falsa meritocracia é suficiente para cegá-lo da sua própria realidade, é como se, negando o pão na boca do outro, ele possa, pelo menos, manter o sonho de ter um pão na sua boca)

Nenhum comentário: