Vez ou outra vemos as frases "Político não
presta", "Tudo farinha do mesmo saco", "Tinha que jogar uma
bomba em Brasília", temperada com charges em que o Congresso Nacional é
implodido, queimado ou atingido por mísseis....
Essas charges e comentários, que vêm de uma minoria
bastante barulhenta, batem sempre na mesma tecla, de que o Brasil é uma
porcaria, que a culpa é dos políticos, que são todos vagabundos.
Mas se você notar, essas críticas vêm quase sempre de
pessoas que costumeiramente ou apóiam a direita, ou odeiam a esquerda (sem, no
entanto, se dizerem de direita). Alguns tentam fugir da pecha de que apóiam a
direita, se dizendo apartidários (porém, nunca criticam ícones da direita como
FHC ou governos militares, e seus posts têm sempre cunho ideológico de direita,
ora atacando projetos sociais como bolsa-família e sistema de cotas, ora
defendendo dogmas da direita liberal, como menos intervenção estatal e a
meritocracia ou então citando o onipresente mensalão – alias apenas o do PT -).
Antes de analisar as razões dessas pessoas, descritas
acima, quero pincelar o que essa verdadeira criminalização dos políticos e da
política é, dentro do contexto mundial.
É natural que tenhamos muitas ressalvas aos nossos
políticos, afinal não são poucos os casos de corrupção e falta de integridade
moral (que não se restringe a corrupção, como bem demonstra o nosso Deputado
Feliciano e outros). Mas daí a achar que a política é, per si, algo ruim, que
os políticos são todos safados vai uma diferença enorme. De fato, uma diferença entre democracia e ditadura, entre liberdade e repressão...
Quer queira, quer não queira, os políticos são a
forma pela qual o povo exerce indiretamente seu poder soberano, elegendo
representantes para que, em seu nome, lute pelos seus interesses e governe o
seu País, Estado, Município ou Distrito Federal. Na verdade, é político também
aquele eleito pela associação de bairro, pela associação de pais e mestres de
uma escola... Mais profundamente, é político também o chefe de família, o
professor, o aluno, enfim todos nós... E exatamente por isso os políticos
eleitos para exercer o poder público nada mais são do que o reflexo de nós
mesmos.
Churchill disse que a democracia era uma péssima forma
de governo, somente superior a todas as outras formas de governo. Com isso o
premiêr mais popular da história britânica quis dizer que a democracia estava
longe de ser perfeita, mas a alternativa era, historicamente comprovada, muito
pior (para maiores e mais acadêmicas explicações sobre o assunto sugiro a leitura
de Robert Dahl).
Quem é, portanto, contra os políticos, contra o
Congresso Nacional, é contra a democracia, por simples impositivo lógico (não
há como exercer a democracia em nosso país de outra forma que não elegendo
representantes).
Infelizmente, dado o grau em que nos encontramos, a
arte de governar não pode ser feita sem ter que 'jogar' o 'jogo político', de
interesses (e quando digo interesses não me refiro a interesses escusos, mas
interesses políticos). O maior político dos EUA foi Abraham Lincoln, e ele teve
que negociar, barganhar e até mentir para conseguir, por exemplo, garantir
direitos aos negros (sugiro que se assista ao filme 'Lincoln'). Alguém já se
disse que se faz política com os intestinos e não podemos ter fora do nosso
alcance que cada político representa um grupo de pessoas, que o elegeu, e essas
pessoas têm interesses conflitantes, porém todos merecem respeito em nome da
democracia (mesmo um Feliciano representa um grupo, deverá ter essas idéias
discutidas, desde que não conflitem com os direitos fundamentais de outros
grupos, coisa que quase sempre acontece em se tratando desse político). O
'encaixe', e ajuste para gerar governabilidade não é algo fácil nem bonito.
Porém, é necessário no jogo democrático esse ajuste.
Faz sentido, portanto, que as pessoas que tanto
criticam nossos políticos como um todo, nosso Congresso Nacional, sejam de
direita (que têm ainda um caso de amor platônico com a ditadura). Não é à
toa que vejamos mais e mais manifestações raivosas dessa minoria contra os
políticos (e em especial contra o partido político que está no poder, sem
perspectivas de sair tão cedo pela via democrática) nas redes sociais.
Quanto a análise das razões dessas pessoas, pode-se ver no post anterior, onde é analisado o perfil daquele derrotado derrotista, cujo preconceito se tornou ideologia e cuja cegueira social e egoísmo não lhe permite perceber a mudança (para melhor) que o Brasil teve na última década. Mais importante é 'não perder a pose' (preconceito, na verdade), e continuar acreditando na meritocracia que alijou quase 60% da população brasileira do mercado de consumo por muito tempo. Ainda que a maior parte do Homo Reacionarius seja composta por vítimas desse mesmo sistema (o preconceito e o sonho de participar da parte de cima da pirâmide dessa falsa meritocracia é suficiente para cegá-lo da sua própria realidade, é como se, negando o pão na boca do outro, ele possa, pelo menos, manter o sonho de ter um pão na sua boca)
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